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domingo, 22 de abril de 2012

Num abrir e fechar de olhos





Quando somos pequenos esperamos tanto e ao mesmo tempo tão pouco das pessoas. Esperamos que a nossa melhor amiga chegue mais cedo à escola para podermos brincar , mas se ela não conseguir chegar (como tinha prometido) não faz mal, nós vamos brincar com a Maria, com a Francisca ou com a Vanessa, e qualquer uma delas pode ser nossa melhor amiga nesse dia. Desde que brinque connosco aqueles 10 minutos a mais que queríamos brincar com a nossa melhor amiga de verdade, mas que não ficamos sentidas por dividi-los com outra amiga qualquer. E esperamos que o Nuno esta semana queira ser nosso namorado, porque a semana passada já namoramos com o Tiago e estamos um bocadinho fartas, até porque gostamos dos dois e não sabemos bem qual deles escolher. Só sabemos bem é que se nenhum deles quiser namorar connosco, o Rafael vai querer de certeza, porque quer sempre. E namoramos com um qualquer, mesmo que não dê para ser com o Nuno, a nossa primeira opção. E não ficamos magoadas, nem choramos. Quando somos pequenos esperamos que faça sol para brincarmos no recreio, para fazermos uma dobra na camisola e andarmos com a barriga à mostra o dia todo, para tentarmos ficar mais morenas que as meninas da sala ao lado, e mais bonitas. Só que ao mesmo tempo esperamos que também chova, porque sabemos que se por acaso isso acontecer, não faz mal. Porque quando a avó nos for buscar à escola com dois guarda-chuvas - um para ela, e outro para nós - nós vamos deixa-la ir no caminho para casa com os dois, enquanto nós corremos alegremente à chuva, e deixamos que esta nos molhe a cara e os sapatos de tanto saltarmos nas poças. E não vai fazer mal - faça sol ou faça chuva, não faz mal. E temos a mania de ter tantas expectativas para o dia seguinte. Mas se por algum motivo esses planos nos saírem fora do esperado , não faz mal. Nós temos o plano 2, 3, 4, 5, 6... e os nossos planos por mais vezes que falhem são sempre substituídos por outro rapidamente. Num simples abrir e fechar de olhos. Num abrir e fechar de olhos nós arranjamos outra pessoa, que naquele momento vai ser melhor do que a pessoa que verdadeiramente queríamos connosco. E num abrir e fechar de olhos nos passamos da tristeza para a felicidade. E da magoa para a alegria. E por isso as dores que sentimos são tão passageiras como aquelas brisas frescas que aparecem em alguns dias de Verão. Depois crescemos. E se ele não aparece nós não esquecemos. E se ela falha nós não perdoamos. E se pelo caminho esbarramos contra uma pedra e caímos nós ficamos muito mais do que um abrir e fechar de olhos estendidas no chão. A pensar no azar que temos para aquela grande pedra estar logo ali, no nosso caminho, à frente dos nossos pés.
Quando nós crescemos fazemos o pior: criamos tantas expectativas em relação às pessoas que amamos. Nós esperamos que não nos deixem, que não nos mintam, que não nos falhem. Nós esperamos que nos mimem, que nos abracem, que nos beijem, que tomem conta de nós. E se há um dia que tudo isto é feito, há outros em que nada acontece. E depois? Depois já passou a altura em que tudo passava num simples abrir e fechar de olhos de olhos. Essa altura ficou lá atrás. Agora dói quando abres os olhos, e quando os fechas outra vez. E quando abres, e quando fechas. E quando abres devagar e fechas com força. Dói sempre. E não passa logo. Porque não sabes esquecer e perdoar como um dia soubeste fazer. E tens saudades da altura em que tudo era tão simples.. tão ligeiro, tão passageiro. Quando todos os problemas tinham soluções. Porque depois cresces. Cresces e fodes-te. É isto mesmo.

4 comentários:

  1. é que é mesmo, obrigada querida. (:

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  2. este texto foi mesmo escrito com o coração nao?

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  3. era bom que olhassemos a vida com olhar de criança. acreditando sempre que as coisas melhoram, ficando na mesma felizes com a chuva ou sol e perdoando as pessoas.

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  4. se fores a parar para pensar nas consequências, não vais aproveitar metade daquilo que podias aproveitar!

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